
🔲 Prejuízo com token OM poderia ser facilmente evitado
15 Apr 2025
Crescimento da Mantra foi supostamente causado por um forte movimento de manipulação de preço, e muita gente poderia ter evitado o rombo com algo simples....
O token OM, do ecossistema Mantra, colapsou em questão de horas entre os dias 13 e 14 de abril.
O co-fundador da Mantra, John Patrick Mullin, culpou exchanges centralizadas pelo colapso. Segundo ele, grandes posições abertas foram abruptamente fechadas, o que desencadeou uma pressão de venda no preço do token.
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Ele ainda culpou a lendária máfia, já que as liquidações ocorreram num domingo, e finais de semana são conhecidos pela liquidez geralmente reduzida.
Mas isso não é novidade, você já sabe disso tudo. O que eu trouxe hoje é como essa situação poderia ser evitada se ferramentas simples fossem disponibilizadas aos investidores do varejo.
Esse post é uma versão adaptada de um texto que escrevi no X. Infelizmente, os descompensados da Modular viram e me obrigaram a escrever um artigo sobre.
Suba na motoca. A gente vai dar uma volta e falar de market depth.
A tendência é de alta… Alta infinita!
Gráfico do token OM entre dezembro de 2023 e 31 de março de 2025. Imagem: CoinGecko
Nunca foi incomum encontrar analistas questionando a performance do token nativo da Mantra (OM), já que ele só subia. No gráfico acima, é possível ver que não teve essa de correções dentro do ciclo de alta, apenas um crescimento constante.
Mas o que diabos era a Mantra? Bom, o projeto era sobre tokenização de ativos do mundo real (RWA, na sigla em inglês) para instituições. De acordo com o time por trás da Mantra, eles tinham conformidade com diferentes reguladores, eram a melhor opção pra tokenizar e tudo mais.
Ano passado, eles pivotaram e viraram uma blockchain própria pra tokenização. Nessa blockchain, o OM era o token para staking e, consequentemente, governança.
E aí você pensa: “tudo bem, eles estão imersos na narrativa, mas não justifica esse porradão todo.” E você pensou certo, esse tipo de alta descolada do mercado raramente é um bom sinal.
Acontece que, ao que tudo indica, o preço do token tava sendo artificialmente inflado. Mais ou menos assim: o time por trás do token criava um volume falso de negociação, o token subia e aí uma galera comprava porque acreditava que era um ótimo ativo.
Até que isso aqui aconteceu, e a explicação que a Mantra deu foi aquilo que eu escrevi na introdução:
Gráfico do token OM nas últimas 24 horas. Imagem: CoinGecko
Em retrospecto, tudo é lindo
Muitos analistas já levantavam a hipótese de manipulação de preço, mas é complicado. Nesse mercado, muita gente fala muita coisa, e é difícil separar o que é barulho e o que faz sentido.
No caso da Mantra, uma forma de simples de ver isso seria analisando o market depth. Mas você já sabe, degen: nunca é tão simples. Vamos lá.
Market depth calcula quanto de volume um token tem dentro de uma faixa de preço, servindo pra compra e venda.
Ele é calculado da seguinte forma: primeiro, é feita a média usando o preço de venda mais baixo e o preço de compra mais alto.
Exemplificando: se a ordem de compra no preço mais alto de um ativo é R$ 9 e a ordem de venda mais baixa é R$ 11, a média seria R$ 10 (9 + 11 / 2 = 10).
Então beleza, considera-se R$ 10 o preço pra cálculo do market depth. E aí vem a segunda parte: calcular o volume dentro de faixas de ordem com base nesse preço.
As faixas geralmente usadas são 1%, 5% e 10%, tanto para compra quanto para venda.
Para elaborar melhor, voltamos no exemplo do ativo com preço médio R$ 10. Pra calcular o market depth em 5%, a gente pega os 5% pra cima e pra baixo.
Se o preço médio é R$ 10, o market depth em 5% vai de R$ 9,50 até R$ 10,50.
O volume entre R$ 9,50 e R$ 10 chamado de "bid volume 5%", enquanto o volume entre R$ 10 e R$ 10,50 é o "ask volume 5%".
Analisando o market depth, você consegue ter uma ideia se o volume negociado é organicamente distribuído, ou se é o protocolo influenciando no volume de alguma forma.
Por exemplo, um token tem US$ 100 milhões de volume. Isso é bacana! Mas e se, analisando o market depth, a gente vê que US$ 98 milhões são comprimidos na faixa de 2% e o resto é muito espaçado?
Já começa a ficar esquisito, com grandes chances de que o protocolo tá agindo (sozinho ou através de market makers) pra negociar bastante em uma faixa de preço específica com trades "água de salsicha" e influenciar no volume.
Eu sei, você tem algumas perguntas. Eu vou começar a responder elas a seguir, porque vejo como as principais lições do incidente da Mantra.
Só uma observação antes: market depth não é um medidor absoluto. Existem casos em que um token explode em popularidade, muita gente começa a negociar e os trades ficam em uma faixa específica de preço.
Usa-se o market depth, então, pra filtrar de forma fácil quando um token tá passando por wash trading (os trades de água de salsicha que eu falei ali) ou não. Mas, pra uma análise mais aprofundada, ele não é absolutamente confiável. É preciso ir no "caso a caso".
Agora, bora ver essas questões.
“Você teria um market depth pra me dar?”
Você reparou que, para calcular o market depth, é necessário pegar o volume negociado em diferentes faixas de preço. E isso envolve pegar as ordens nessas diferentes faixas de preço.
A questão é que isso é difícil! Algum lugar teria que disponibilizar isso facilmente, de preferência a própria exchange.
E aqui entram mais questões. Vou começar pela existência dos dados de market depth disponíveis nos agregadores.
Esse market depth é de gue?
Se você consulta agregadores de preço, tipo CoinMarketCap e CoinGecko, você tá se coçando desde lá em cima pra dizer que já tem market depth 2% nesses sites.
O problema é: um relatório da Kaiko de janeiro de 2023 já abordou isso, e mostrou que muitas exchanges forjam o volume dentro dessa faixa de market depth pra parecer orgânico nesses agregadores.
Nas imagens abaixo, extraídas do relatório da Kaiko que eu mencionei, se liga no par DOGE/USDT na Bitforex e na Coinbase. Olha a diferença do volume negociado nas diferentes faixas de market depth.
Volume do par DOGE/USDT na Bitforex. MD na imagem representa market depth. Imagem: Kaiko
Volume do par DOGE/USDT na Coinbase. MD na imagem representa market depth. Imagem: Kaiko
É importante ressaltar que a culpa não é dos agregadores, eu vou falar mais disso.
"Mas por que as exchanges fazem isso, Pelica?"
Heh.
se loko num compensa
Se eu tenho um token, não quero que ele seja listado em exchanges merdas. Eu quero que ele seja negociado pra dedéu!
E aqui entra uma parada complexa, tipo cenário A e cenário B do Resident Evil 2. Vamos lá.
Cenário A, ou cenário das exchanges: pra que listem tokens comigo, o que envolve me pagar uma grana bruta pra ter o token listado na minha plataforma, eu preciso justificar isso com volume.
Por isso, vou inflar meu volume pra conseguir mais listagens! Mas esses agregadores MALDITOS introduziram esse market depth de 2% pra dar alguma noção ao varejo sobre volumes orgânicos.
Nessa hora, os chefes de produto dessas exchanges sugeriram em uníssono: E SE A GENTE MANIPULAR O VOLUME DENTRO DESSA FAIXA DE MARKET DEPTH?
Todos ganharam um jantar de 400 conto no Coco Bambu bancado pela firma, porque é assim que o capitalismo funciona, meus amigos. Você dá uma ideia milionária e te dão um gift card. Acostume-se.
Então, a gente já sabe que é interessante para as exchanges pouco ou nada reguladas inflar o volume e garantir listagens!
Cenário B, ou o cenário dos projetos: assim como as exchanges, também quero que meu token pareça muito negociado.
Por isso, é cômodo que o volume seja inflado, principalmente na faixa de market depth comumente usada nos agregadores!
Vou criar uma demanda falsa, muita gente vai entrar, vou ganhar uma bolada e apostar tudo no Chelsea (que é renda fixa). 🤑
Agora, saindo do ponto de vista de ambos os cenários e retomando a narrativa. Entende por que não é interessante, nem para as exchanges e nem para o mercado como um todo, que a gente tenha acesso fácil a diferentes faixas de market depth em tempo real?
É justamente por isso que falei que a culpa não é dos agregadores. Eles fizeram o que dava pra trazer dados melhores pra gente, mas é doidera fazer tracking em tempo real de diferentes faixas de market depth de uma cacetada de ativo.
Quem faz isso são empresas de dados que cobram caro pela assinatura, e justificadamente, porque já falei que acompanhar isso dá trabalho. E aí a gente fica sem acesso.
O lance é que as próprias exchanges poderiam fornecer isso facilmente com um robô mole de programar. O varejo teria se ligado e não teria entrado nessa furada.
Resumo da ópera
Somos eternos reféns da máfia. Desça da motoca.
Links úteis
Relatório da Kaiko mencionado no texto: https://blog.kaiko.com/how-to-spot-artificial-volume-766283f23fbe
Artigo sobre o colapso do token OM: https://cryptoslate.com/om-token-crashes-over-90-mantra-blames-centralized-exchanges/
Antes de terminar, gostaríamos de lembrar que o conteúdo discutido aqui é estritamente informativo e destinado a fomentar a discussão geral. Não deve ser interpretado como recomendação financeira, fiscal ou conselho de vida para qualquer indivíduo. Encorajamos fortemente que você faça sua própria pesquisa e consulte profissionais qualificados.
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